Bem vinda, noite!

Bem vinda, noite!

(Lola)

Bem vinda, noite

Mesmo que escura e fria

O dia já era

E está à espera

Da madrugada

Para esta ser transformada

Em dia outra vez

Mas ainda é noite

Bem vinda, noite!

Linda noite

Para sonhar

E para descansar

(descansar bem

Pra colocar em prática

O sonho)

Bom sono!

A Pedra

A Pedra

(no Encontro Nacional de Mulheres da PPL,Rondônia, 2004)

a pedra

quebra

o caminho plano

e os planos

de quem caminha

a pedra

fere o pé

de quem quer

sentir a vida

seguir na lida

de pé no chão

a pedra

fura a mão

de quem atira

em quem não atura

de quem só mira

a pedra dura

pra quem não tem

nem o direito

nem o respeito

de quem atira

preconceito

mas a pedra

removida

devolve a vida

que devolvida

devolve o caminho plano

e os planos

de quem caminha

planos de vida

O poder do tempo e o meu poder

O poder do tempo 
e o meu poder

Lola

Tempo

Tempo ao tempo

Tempo ao corpo

Tempo à alma

Na calma

De um tempo extorquido

Da agenda

Merecido há tempos

Concedido por mim mesma

Só hoje

Mesmo que urge faz tempo...

Tempo valioso

Precioso demais

Capaz de milagres

Precioso

Poderoso tempo

Tempo!

Te tenho na mão agora

Outrora me tinhas

Agora te tenho

Me tenho!

A cada peça que lavo...

A cada peça que lavo...

(Lola, 14.01.2007)


(Em homenagem a todas as mulheres guerreiras 
que precisam enfrentar o tanque a cada novo dia 
e que não tem o devido reconhecimento)

A cada peça que lavo

Peço a Deus que leve

Tanto mal

Pra bem mais pra lá

Do meu varal

Tanto mal

Que me faz mal

E que mal posso saber

De onde vem.

A cada peça que lavo

Peço a Deus que lave

Tanta sujeira

Que suja

Minha vida inteira

E a perspectiva

De uma maneira nova

De enfrentar a vida

Com menos peças pra lavar

A cada peça que lavo

Peço a Deus que livre

Minha vida presa a este tanque

Que estanque a água

Da torneira

E dos meus olhos

Pra me dar um tempo

De me recostar

E me recuperar

De tanta peça que já lavei

Peço por leveza

Pra esfregar minhas mãos

Uma na outra, agora

E ver

Como estão

E perceber

Que são

Vítimas do tanque

Vítimas do sabão

Vítimas do alvejante...

Vítimas...

Eu não quero ser vítima!!!

Momento a momento

Momento a momento!

É no dia a dia do lar

Que amar

Pode se tornar

O mais perfeito amar

É no hora a hora da vida

Em pacto de aliança

Que o impacto do mundo

Não vai comprometer

Confiança

Segurança

Aliança mútua

É no segundo a segundo do casamento

É no momento a momento

É nos braços dados

Abraço dado com coração e ternura

Com paixão e loucura

E Deus abraçando junto

Entrelaçando ..

NADA MAIS SEGURA!!!
É pura felicidade!

Louraini Christmann, Lola

    (para Hildo,

amor da minha vida

há mais de 30 anos)

A brisa e eu

A brisa e eu

(Lola, 27.12.07)

Brisa azul

Quando envolvida

Pelo céu

Quando envolves

O céu

              Quando me envolves              

Brisa verde-mar

Quando o cheiro do mar

É o teu cheiro

O meu cheiro

Brisa fogo

Quando o sol da aurora

Te queima

E teima em queimar

Até virar

Por do sol

Brisa lua

Quando a noite

É minha e tua

E ficamos as duas

Nuas de máscaras

Nuas de farsas...

Ahhh, chega de disfarces:

Estar só com a brisa

É estar só

Só!

Se o chimarrão não existisse, eu o inventaria

Se o chimarrão não existisse, eu o inventaria

Se

 o

 chi

mar

rão

 não

 existisse, eu o inventaria

como seriam minhas manhãs

sem a manha da cuia

no banho da pia

como seria

iniciar o meu dia

sem o dengo da bomba

querendo a mão envolvente

banhando-a na água quente

como eu poderia ter energia

sem sorver de mansinho

golinho por golinho

água  esquentando

virando mate

 arte

 E o meu arremate:

Como faria poesia

Sem que o amargo do chimarrão

Entrasse em sintonia

Com o mais doce de mim

Pra que, enfim

Eu abrisse meu coração...

Pois é

Se o chimarrão não existisse

Eu o inventaria. 

Outra proposta de vida

Outra proposta de vida

(Lola)

“A gente

Não se achava gente”

(Ledeci Coutinho, Quilombola, Pelotas)

A gente

Vê o mundo

Diferente

A gente

Tem um sonho

Diferente

Mas a gente

É gente!!

Tem que ver o mundo

Como todo o mundo vê?

Tem que ter o sonho

Que todo o mundo tem?

Tem que ser na vida

Como todo  o mundo é?

Capitalismo, não!

Danada estrada

Danada estrada

(Lola)

Danada estrada

Nada sente

Mata simplesmente

Danada estrada

Anda, anda, anda...

Manda a vida parar

E a vida obedece

Padece a vida!

Danada estrada

Anseio de braços em abraços

Anseio de braços em abraços

(Lola, in Celebrando em Poesia, pág. 96)

Vou!

Me dou o tempo

E vou ao vento.

Vôo!

Vou ao encontro de vocês

Vôo por que encontro em vocês

O que tenho em mim:

Tenho o anseio

De braços em abraços!

Venho de braços abertos

Venho perto

Pro abraço ser certo

Decerto haverá abraço tanto

Quanto meu abraço desejar

E necessitar

E abraçar....

Que sempre mais

Que sempre mais!

(Lola)

Que sempre mais pão

esteja sobre sempre mais mesas.

Que sempre mais rosas

estejam sobre sempre mais mesas.

E que em torno de sempre mais mesas

Haja sempre mais comunhão e partilha

Feliz partilha!

Feliz comunhão!

Feliz pão!

Tem espinho

Tem espinho

(Lola, in A Vida em Poesia)

Tem espinho

No caminho.

Se o pé

For descalço

O caminho realça

O espinho

Mas

Prefiro o pé

Ferido no espinho

Ao pé

Ferido no sapato

Apertadinho

Do comodismo

Do mesmismo

Pão - fruto do trabalho

Pão – fruto do trabalho

(Lola)

O pão

Se faz pão

No trabalho

A especulação

Não faz pão

Quem especula

Acumula

O pão

Do trabalho

Do irmão

Da Irmã

O irmão

E a irmã

Que trabalham

Ficam sem o pão

Fruto de seu trabalho

E o pão

Que é como se fosse

Pão doce

Pão de mel

Vira pão de fel

Acumulado

Embolorado.

Pecado!

Mesquinharia

MESQUINHARIA

(Lola, 2.7.2012)

Quando uma mesquinharia

(uma ninharia)

Define o raiar do dia,

O resto do dia já era

Impera mais mesquinharia

(mais ninharia)

Pro resto do dia

Ademais

Há tanta mesquinharia

(tanta ninharia)

Para acabar com o raiar do dia

E mais o resto do dia

De cada dia

Mas...

Há tanta alegria

Para definir

O raiar do dia

E o resto do dia

De cada dia:

Parceria

Braços dados

Doados

Empenhados  em acabar

Com tanta mesquinharia

(tanta ninharia)

Para que o raiar do dia

Seja repleto de alegria

Para o resto do dia

Para o resto dos dias

Adeus, mesquinharias!

(ninharias...)

Critérios

Critérios

(Lola, in Celebrando em Poesia)

De olho

Eu vejo se escolho

O lado de lá

Ou o lado de cá

Critérios?

Os tenho

Pois venho

delineando

Alinhavando os pontos

Aos poucos

E não são poucos!

Porque fico de olho

Se escolho

O lado de cá

Ou o lado de lá

E olha que escolho!